Cataguases (MG) — Em uma noite marcada por emoção, informação e mobilização, a Câmara Municipal de Cataguases realizou uma audiência pública especial em alusão à Semana de Conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). O encontro foi conduzido pelo vereador Maguinho Nóbrega e contou com a presença de autoridades, especialistas, representantes de entidades e famílias atípicas, reunidos com o objetivo de debater e propor avanços nas políticas públicas voltadas às pessoas com autismo no município.

A audiência teve início com a execução do Hino Nacional e do Hino de Cataguases, e logo em seguida, foi aberta oficialmente por Maguinho, que destacou a importância da escuta coletiva e da ação concreta para transformar a realidade das famílias autistas. “Precisamos sair do discurso e entrar na prática. Essa audiência é um passo importante para que possamos construir juntos soluções reais e incluir essas propostas no orçamento municipal”, afirmou.

Especialistas e famílias compartilham vivências e desafios
A fisioterapeuta e musicoterapeuta Dra. Josiane Carvalho, referência estadual no atendimento a pessoas com TEA, foi uma das palestrantes da noite. Com vasta experiência na área e idealizadora de congressos sobre o tema, ela trouxe uma fala profunda sobre o impacto do autismo nas famílias, a importância da rede de apoio e a necessidade urgente de ações estruturantes. “O autismo não é uma doença, é uma condição neurológica. Precisamos mudar o olhar da sociedade e garantir direitos com respeito, sensibilidade e conhecimento”, disse.

Dra. Josiane também enfatizou o papel das mães atípicas, que vivem rotinas exaustivas e muitas vezes sem acolhimento. “Muitas mães abandonam suas próprias vidas para viver a dos filhos. Precisamos cuidar de quem cuida”, reforçou.

Rede pública apresenta avanços e desafios locais
Durante a audiência, o Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) da Secretaria Municipal de Educação apresentou dados impactantes: o número de alunos autistas matriculados nas escolas municipais saltou de 49 em 2021 para 183 no início de 2025. A coordenadora do NAI, Cíntia Marinho, detalhou a estrutura da rede de apoio, que conta com professores especializados, auxiliares e psicopedagogos, além de um plano de desenvolvimento individualizado para cada aluno.

Já o Projeto Gaia, da Secretaria de Saúde, também se destacou como referência regional no atendimento multiprofissional a crianças com TEA. Com mais de 100 atendimentos ativos, o Gaia tem se mostrado um espaço de acolhimento, escuta e desenvolvimento. A psicopedagoga Regina Lacerda, uma das idealizadoras, emocionou o público ao apresentar os avanços e desafios do projeto. “O Gaia nasceu de um incômodo. Hoje somos referência para outras cidades, mas precisamos continuar lutando por mais estrutura e reconhecimento”, afirmou.

Propostas e próximos passos
Ao fim da audiência, ficou estabelecido o compromisso da elaboração de um Protocolo de Intenções, envolvendo todos os presentes, para encaminhamento ao Executivo Municipal. O objetivo é garantir a inclusão de ações específicas no orçamento, além de fortalecer a articulação entre saúde, educação, assistência social e entidades civis.

A audiência também foi um espaço de escuta para diversos grupos e instituições que atuam na causa, como a PAI, o grupo Mães Acolhedoras, o TEAcolher, o Superação, a Comissão da Pessoa com Deficiência da OAB, entre outros.

Um chamado à sociedade
Entre as falas mais marcantes, ficou o apelo por mais empatia, informação e compromisso social. “Conscientizar é um trabalho de todos. É preciso romper os preconceitos, educar para o respeito e lutar pelos direitos. O autismo não pode ser invisível para o poder público e nem para a sociedade”, concluiu o vereador Maguinho.